O TREINAMENTO DA MENTE
Sua Eminência Jetsun Chimey Luding
Você
é a Rainha do Dharma,
Você
é a Mãe-bodhisattva,
Todas
as boas coisas vêm de você.
Para
Jetsun Kusho me prosterno!
(Composta
por Kunga Tondrub)
Palestra proferida no dia 15 de junho de 2001
no Hotel Rondônia, Rio de Janeiro.
(Este
ensinamento só se tornou possível graças às anotações do nosso Amigo Ivamney.)
O
Treino da Mente e suas instruções devem ser praticados tendo como base o
refúgio. A base dessa Iluminação é chamada Bodichita. O Treino da Mente, que é
chamado "a liberação dos quatro apegos", se origina no mestre Sakya
Sanchen Kunga Ningpô.
Quando
o mestre tinha 12 anos, estava engajado numa prática de retiro de Manjusrhi por
seis meses, quando teve uma visão da deidade.
Manjusrhi
apareceu em sua visão e lhe deu o seguinte ensinamento:
1-
Se você tem apego a esta vida, você não é um praticante do Dharma.
2-
Se você tem apego ao Samsara, você não tem sentido de renúncia.
3-
Se você tem apego a si próprio, não há bodhiccita, pensamento de iluminação.
4-
Se você está apegado, não existe a visão.
Nessas quatro linhas todos os sentidos das seis
paramitas, ou seis perfeições, estão contidos.
A
fim de que você tenha o Dharma apropriado, ao invés de ter apego a esta vida,
nossa mente deve estar apegada ao Dharma; ao invés de ter apego ao Samsara, ou
Existência, o nosso Dharma deve estar de acordo com certas instruções; ao invés
de estarmos apegados a nós mesmos, devemos aprender o caminho que nos liberta
das ilusões.
A
sabedoria vai aparecer e libertá-lo da confusão.
O
antídoto de estar apegado a si próprio é a sabedoria que vai além da ilusão.
Aparece a sabedoria que está além dos conceitos analíticos. Este é um tipo de
sabedoria além da fabricação dos dois extremos.
Dessa
maneira, como prática preliminar, vamos meditar e contemplar a preciosa
existência humana, na morte, na causa e efeito ou karma.
A
meditação na preciosa existência humana.
-Sente-se
confortavelmente;
-Faça
a prece de refúgio;
-Gere
a bodhichita ou sentimento de iluminação (rezando para que a sua mente e a dos
demais estejam voltadas para o Dharma );
A
partir daí devemos meditar nas 8 características que constituem a preciosidade
da vida humana.
Na
natureza, é muito difícil ter esta condição humana, por isto existem muitas
causas que fazem esta vida humana preciosa. Existem, poucos entre os seres
humanos, que têm esta inclinação para as coisas positivas.
No
que se refere ao número de seres, existem mais os que se estão degenerando; e
poucos purificando-se. Há um exemplo para explicar isso que nos mostra como é
raro. As chances são tão poucas como a de jogar-se um punhado de ervilhas na
parede e esperar que uma ali permaneça.
Por
isso temos que compreender que esta
preciosa vida humana, tão difícil de acontecer, não deve ser
desperdiçada com obras comuns. Devemos utilizar
esta existência humana para o esforço de libertar todos os seres e com
isto sermos beneficiados nas outras vidas.
O
próximo ponto é:
A
meditação da impermanência e da morte.
Essa
meditação também deve ser precedida pela prece de refúgio e da meditação da
bodhicitta.
Quando
nós nascemos, já estamos morrendo. Não existe nada que não morra nunca. As
causas da morte são muitas e as causas que podem prolongar nossa vida são muito
pequenas, por isto devemos compreender que a qualquer momento podemos morrer.
Quando então a morte vem, nada pode evitá-la: os parentes, as riquezas, os
remédios, os ritos. A única coisa positiva na hora da morte é a nossa prática
do Dharma, é a preparação para a morte.
O
próximo passo para a meditação é a:
Meditação
no Karma, ou na causa e efeito.
Compreendendo
que esta existência humana é rara, e que esta vida que tem tantas
possibilidades não sabemos quanto dura, vemos que a única coisa que pode
ajudar-nos para as próximas vidas é a prática das causas puras do Dharma.
Portanto, a invés de nos tornarmos vítimas de uma vida sujeita à morte, devemos
usar cada momento, quando ainda estamos vivos, para praticar o Dharma.
No
que se refere às diferenças entre ações virtuosas e ações não virtuosas,
devemos nos prevenir de nos engajarmos em ações não virtuosas.
As
10 ações negativas ou não virtuosas são:
As
3 ações negativas cometidas pelo corpo: Roubar , Matar, Conduta sexual errônea.
As 4 ações negativas da fala, Mentir, Palavras fúteis, Caluniar, Tagarelice. As
3 ações negativas da mente: Pensamento de agressão, Cobiça,Visão errônea
Estas
são as ações não-virtuosas, que são as
causas devido às quais podemos nascer nos 3 reinos inferiores.
A
causa e feito do karma é uma coisa inevitável.
Mesmo
que afortunadamente tenhamos nascido no reino humano, se fizermos as 10 ações
não-virtuosas iremos colher o que plantarmos. Por exemplo: aqueles que muito
mataram na vida passada, nessa vida terão vida curta; quem roubou no passado,
será pobre nesta vida. Aqueles que mataram na vida passada, nesta vida terão
gosto de matar, e serão assassinos, formando a cada vida um acúmulo cada vez
maior.
O
resultado da ações positivas como salvar a vida de animais ou qualquer ação virtuosa
nos leva a nascer nos 3 reinos elevados, pois a relação é causal para cada
ação:
Não
matar- vida longa.
Generosidade-
prosperidade material.
Devido
ao karma de termos feitos ações positivas, acabamos nascendo nas circunstâncias
que dão continuidade a realizar essas ações para beneficiar os outros.
Compreendendo a questão do karma, só assim teremos confiança para fazermos
ações positivas.
Tendo
recebido este ensinamento e sabendo a diferença entre as ações positivas e
negativas, devemos ter o maior cuidado com as nossas ações.
A
fim de que nós pratiquemos o Dharma de acordo com o Dharma, temos que meditar e
compreender o que são as negatividades e ver que a natureza da existência não é
outra coisa senão sofrimento. Assim é
que iremos ter desapego por esta existência, e esse desapego é o que faz com
que nos engajemos na prática do Dharma.
Meditando
nas condições do samsara e no sofrimento dos seis reinos, nós acabamos
meditando no que sofrem os seres dos infernos, com imensos sofrimentos de calor
e de frio. O sofrimento deles são inimagináveis. Por exemplo: um pequeno
sofrimento que podemos tolerar nessa vida não aguentaríamos no inferno. O
sofrimento que existe no inferno esta além da nossa capacidade imaginativa.
O
sofrimento do reino animal, o medo de ser comido, de ser escravizado etc.
Como
humanos, nós mesmos conhecemos nosso sofrimento: o medo de, subitamente,
encontrarmos algo desagradável, de perdermos uma pessoa ou objeto querido, de
estar separado das pessoa que amamos, ou juntos de pessoas que queremos evitar
e que temos medo de encontrar.
Os
que nascem nos reinos dos semi-deuses sofrem devido à sua agressão e luta
constantes. Os que nascem nos reinos dos deuses também sofrem pois sabem o dia
em que irão morrer. Dessa forma não existe um lugar na existência onde não haja
sofrimento. Assim, portanto, temos de desenvolver uma determinação de estarmos
livres desses seis reinos; e temos de desenvolver uma determinação de
atingirmos a iluminação ou estado de Budha.
O
terceiro estágio da meditação é o desenvolvimento da bodhicitta, que é o
antídoto de apegar-se a si próprio. Neste estágio desenvolvemos a compaixão e a
bodhicitta. Neste caso, temos que saber, e meditar, que não basta que somente
nós nos libertemos do samsara. Todos os seres, que também foram nossas mães,
devem estar nesta concentração, todos os seres sensíveis são objetos de nossa
concentração e, por cada um desses seres, que como mãe nos beneficiaram, vamos
desenvolver a gratidão e a recompensa.
A
nossa mãe na presente vida que nos levou no ventre, nos amamentou, nos educou.
Como esta mãe, os outros seres foram, em algum momento, nossas mães. E a fim de
levar o benefício a esses inumeráveis seres dos seis reinos, vendo-os com muito
amor e gratidão; vendo que todos eles estão sofrendo e que mesmo que você, no
seu corpo atual, deseje libertá-los do sofrimento do samsara não conseguirá, e
já que eles não sabem libertar-se a si mesmos,
isto vai fazer nascer em você o desejo de atingir a iluminação para
assim poder explicar a todos eles como ajudá-los.
Todos
esses seres que são como nossas mães estão indo para o sofrimento, e por isso
nós iremos desenvolver um intenso sentimento de compaixão por este sofrimento e
de que eles se livrem das suas causas de sofrimento.
Desta
maneira você vai estendendo esse sentimento de amor a todos os seres sensíveis, porque, se você não
conseguir desenvolver este sentimento, o pensamento de iluminação genuína não
acontece.
Há
3 aspectos envolvidos com a motivação da bodhicitta:
1
Aspiração da motivação da bodhicitta.
2
Aspiração de não ver nenhuma diferença entre eu e o outro.
3 A
mudança ou troca do eu pelo outro.
Apesar
de você ter o pensamento disto tudo, desejando que todos sejam felizes e que
sejam libertos do sofrimento do samsara, não basta esta vontade para poder
realizar isto. Mesmo grandes seres como Bhrama, Indra e Sakravasbudas não têm o
poder de tornar os seres sencientes iluminados. Só quem tem este poder são os
Budhas Completamente Iluminados, e para atingir o estado de Budha Completamente
Iluminado a pessoa pratica o Dharma com esta motivação. Essa atitude é a mais
importante base de motivação para que alguém se torne um Budha iluminado.
Em
muitos ensinamentos diz-se que a geração da bodhicitta é o motivo essencial
para se tornar um Budha.
A
prática da meditação de não distinguir entre eu e o outro. De trocar o eu pelo
outro.
Esta
meditação parte do seguinte: o sofrimento que você não quer o outro também não
quer; o seu desejo de felicidade é o mesmo do outro; as coisas que você faz para evitar o sofrimento é o
mesmo que o outro faz.
Portanto,
não há nenhuma diferença entre o que eu quero e o que os outros querem.
A
terceira parte da meditação da bodhicitta é a troca de lugar entre Eu e o
outro.
O
desejo da meditação é que você assuma o
resultado da má ação do outro. Pensando que todos os seres foram suas mães,
você desenvolve por eles uma grande gratidão, e deseja que eles não mergulhem
no sofrimento, e que você receba toda a causa do sofrimento deles, e que todas
as suas próprias causa de mérito passem para eles. Desse modo se faz a
meditação de trocar a si pelos outros.
Na
prática desta meditação você começa com a sua verdadeira mãe nesta vida, e vai
aumentando até incluir todos os seres do samsara.
Esse
tipo de meditação foi praticado por todos os Budhas e Bodhisattivas, por isto
você tem que desenvolver a motivação para fazer esta prática. Em todos os
momentos de nossa vida, que nunca estejamos separados desse pensamento de
iluminação e de bodhicitta.
Para
desenvolver o desapego da existência e compreender a visão que é livre da
concepção dualística e de apegos, e chegar a essa visão última do não fabricado
e do livre dos extremos, devemos fazer a meditação shamata e vipassana.
Estabelecemos a mente na meditação shamata, e estando no insight da meditação
vipassana, que é a contemplação de que todas as aparências são projeções da
nossa mente e que o que aparece é livre de qualquer existência, como o reflexo
do arco- íris no espelho: que é como um truque de mágica.
Assim,
todos os méritos que tivermos acumulados por
este tipo de prática, por ter ouvido estes ensinamentos de hoje da
libertação dos 4 apegos e de termos meditado nisto devemos dedicar.
Todo
tipo de prática que fizermos nunca devemos dizer a ninguém a fim de mostramos
que somos melhores. Não fazer a prática para mostrar que é melhor. Se você tiver a intenção de fazer
com que outro pratique o Dharma, então você pode dizer porque está praticando,
não a qualquer um.
Portanto,
chegamos agora ao fim desses ensinamentos. Devemos tentar ver que todas as
coisas são como sonhos ou ilusões de mágica.
Dessa
maneira, pela prática desses ensinamentos e meditações, a pessoa pode ter a
completa realização.
Significa
que a nossa mente se volta para o Dharma, que é o contrário de se voltar para a
vida.
A
nossa prática está na compreensão da negatividade do samsara, e do desapego
deste. Para isto você desenvolve a bodhicitta, que é superior ao veículo menor,
e esse desenvolvimento da bodhicitta sem apego faz com que você fique livre das
ilusões. Então, finalmente, compreendendo a visão última que é livre de todos
os extremos e elaborações, nós teremos o desenvolvimento da sabedoria que acaba
com o conceito dualista de apegar-se a si próprio, através desse caminho, se você
o seguir, e se usar a situação presente de seu corpo, fala e mente num sentido
positivo.
Por
exemplo: podemos usar nosso corpo físico para ações como prosternações, usar
nossa condição verbal para recitar mantras, ler sutras, ensinar, usar nossa
condição mental para meditação no amor, compaixão e bodhicitta, usar nossas
posses materiais para fazer oferecimento às 3 jóias e às pessoas pobres.
Se
nós vigiarmos nosso corpo, fala e mente, e usá-los em coisas positivas, isso
acabará fazendo que, por fim, nós consigamos o despertar da consciência de
Budha, o mais alto estado.
Com
isso, nós concluímos o ensinamento de hoje, que resume a eliminação dos 4
apegos. Vamos encerrar fazendo as preces de dedicação dos méritos de termos
ouvido estes ensinamentos, para todos os seres.
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